quarta-feira, 18 de janeiro de 2017


Preocupada e comovida com a falta de água que assola os reservatórios de nossa região,e com a estiagem, e especialmente no perímetro de nosso município, a Prefeita Dra. Lorenna Di Gregório vai adotar medidas na busca de soluções para minimizar a falta de agua em nossa terra que vem preocupando todos os itirucuenses. Deus abençoa que resolva em tempo recorde

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A quem serve o poder judiciário no Brasil

“Justiça neste país é pra rico, não pra pobre”, afirmou o advogado Antônio Donizete Ferreira, que defende as famílias (1,5 mil) despejadas do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP). Com o desabafo (Leia A Verdade, nº 136), o causídico apenas repetiu uma frase que ouvimos desde criança de nossos pais (e mães), avós, tios e tias e que traduz uma constatação da realidade nua e crua da sociedade capitalista em que vivemos e da árdua luta que se trava no dia a dia em todos os aspectos da vida do povo. A realidade desmente o que entufados professores tentam passar para os estudantes, de que o direito é uma ciência e como tal é neutra.
Na origem, o direito nasceu com a propriedade privada das terras e dos frutos do trabalho, com a escravização dos despossuídos, e nenhuma eficácia teria sem um apare-lho repressor que lhe garantisse a aplicação. O escravo aceitaria o jugo, caso não fosse submetido aos mais cruéis castigos, inclusive à morte, ao menor sinal de desobediência?  O camponês deixaria suas crianças minguarem famintas, olhando as viçosas plantações do fazendeiro ao lado se o “sagrado direito de propriedade” não garantisse ao juiz o envio de agentes policiais para lhe prender a fim de cumprir pena por roubo e invasão da propriedade alheia? É dizer, sem a espada que carrega na mão direita, a balança que conduz na mão esquerda nenhum poder conferiria à deusa Themis.
Que Direito?
No caso Pinheirinho, as instituições “democráticas” do Estado burguês e seus meios de comunicação, observem, condenam o excesso, a truculência policial, jamais o ato em si da desocupação, embasado num mandado judicial, pois “sentença de juiz se cumpre, não se discute”, não é esta a máxima? Que importância tem se a sentença prejudica 8 mil pessoas e favorece apenas uma, o pretenso “proprietário” Naji Nahas? Irrelevante, se ele é um especulador condenado ou indiciado por vários crimes, a exemplo da quebra da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (1989) e da evasão de divisas e lavagem de dinheiro (2008). Interessa que foi condenado a 24 anos de prisão em primeira instância, mas recorreu e foi gozar férias no exterior enquanto a instância superior revogava a sentença? Mas, que jurista é você? Foi aprovado no Exame da Ordem, mas não sabe que cada caso é um caso e o que  não existe nos autos do processo que ele examina, é como se não tivesse existência no mundo?
Desse modo, a excelentíssima Márcia Loureiro, juíza da Sexta Vara Cível da Comarca de S. J. Campos não tinha que apreciar nada do que foi citado no parágrafo anterior ao expedir o Mandado de Reintegração “que respaldou uma das ações mais desastrosas da Polícia Militar paulista, com flagrantes claros de desrespeito aos direitos humanos” (Carta Capital, nº 684).
Então, aceitemos o desafio, abstraindo o passado criminoso de Naji Nahas, e analisemos o caso concreto, embora sem acesso aos autos. A juíza fundamenta sua sentença no direito de propriedade que fora ultrajado pelos “invasores”. Este direito é, de fato, assegurado pela Constituição Federal (1988) no art. 5º, inciso XXII: “É garantido o direito de propriedade”, mas condicionado logo a seguir, no inciso XXIII: “A propriedade atenderá a sua função social” e no inciso XXIV: “A Lei estabelecerá procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por inte-resse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição”.
No caso, o próprio direito de propriedade é questionável, e sobre isto certamente há documentação no processo, pois é evidente a existência de grilagem. Ocorre que os proprietários, a família Kubitzky, assassinada em 1969, não deixou herdeiros. O terreno deveria ter sido transferido para o Estado, mas na omissão deste, passou para a grilagem, uma prática recorrente na região: “Bairros inteiros surgiram de terrenos grilados, legalizados com registros fraudulentos em cartório, crime difícil de ser comprovado, pois os registros foram adulterados há muitos anos”, explicou o advogado Antônio Donizete a Carta Capital (edição citada). Um desses “criadores de bairros inteiros” é Benedito Bento Filho, o Comendador Bentinho, que vendeu o terreno ao megaespeculador Nahas em 1985. Foi dado em garantia, em 1989, aos credores da Massa Falida da Selecta Comércio e Indústria S.A., de propriedade de Nahas. Ocupado pelas famílias sem teto em 2004, foi objeto, em 2005, de uma ação fiscal da prefeitura de S.J. dos Campos, para execução de IPTU em atraso.
A alegação de que o Juízo estaria garantindo o direito de credores da Massa Falida não procede porque há documentação comprobatória de que este direito havia sido satisfeito desde 2007 e ainda sobraram 3 milhões de reais depositados em conta à disposição do Juízo. Por outro lado, a prefeitura poderia ter desapropriado o terreno por interesse social sem custo indenizatório, haja vista o IPTU devido, mas não o fez.
Sem dúvida, os governos do Estado de São Paulo e do Município de São José dos Campos têm responsabilidade na forma com que o despejo foi realizado, mas o objetivo deste artigo é analisar a atuação do Judiciário.
A juíza Márcia Loureiro esqueceu também outro direito constitucional que protege as famílias expulsas como animais e que perderam, além das casas, seus pertences soterrados no amontoado de escombros: o direito a moradia digna está inserido no capítulo II da CF/88 – Dos Direitos Sociais, art. 6º, no mesmo nível dos direitos a educação, saúde, alimentação, trabalho, previdência social, etc.
A juíza comemorou o êxito da reintegração de posse concedida por ela. Na verdade, não feriu apenas 1.500 famílias, mas atingiu em cheio a Lei Maior, como vimos. Ocorreu, assim “o assassinato judiciário, o verdadeiro pecado mortal do Direito. O depositário e defensor da Lei tornou-se o assassino dela. É um médico que envenenou um doente”1
Assassinar o Direito é o que tem feito de modo permanente o Judiciário brasileiro. Venda de sentenças, anulação da condenação de poderosos por instâncias superiores, cerco ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por investigar movimentações financeiras de magistrados. Lenta, lerda, injusta. Levantamento do Banco Mundial colocar o Brasil na 100ª posição entre 180 nações analisadas.
O CNJ, criado para ser um órgão de controle externo tornou-se órgão interno, submetido ao Supremo Tribunal Federal (STF), sem poder de fiscalizar os membros desta Corte. Mesmo assim, tem investigado os judiciários estaduais, encontrando “venda de sentenças, improbidade administrativa, nepotismo, corrupção, etc.”. Eliana Calmon, Corregedora Nacional de Justiça e ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ), lamentou a existência de “bandidos vestidos de toga”, na sua expressão. Foi chamada de autoritária, leviana e alvo de uma interpelação arquivada pela Procuradoria-Geral da República.  O juiz Fausto de Sanctis condenou o banqueiro Daniel Dantas a 10 anos de prisão por suborno e outras irregularidades, mas viu sua decisão ser revogada pelo STJ e foi submetido a ataques diversos. Exemplos não faltam. A pena máxima aplicada a um juiz por corrupção ou outros desvios de conduta é apenas a aposentadoria compulsória. Prêmio ou castigo?
Sem Luta, Não Há Direito
Por isso, o Judiciário não tem credibilidade no meio do povo, que vê processos simples se arrastarem por 5, 10, 15 anos, sem uma conclusão. “Para o pobre, só a Justiça de Deus”, acreditam as pessoas.  Mas essa visão fatalista precisa ser superada, pois leva à acomodação e só interessa às classes dominantes. E não tem fundamentação histórica, pois o direito tem passado por muitas transformações. No Brasil, mesmo, o trabalho escravo era previsto em lei, que foi derrubada por muita luta. É esta que garante o cumprimento da lei e a conquista de novos direitos.  “É uma concepção verdadeiramente romântica, que se assenta sobre uma falsa idealização, admitir que o direito se forma sem dor, sem custo, sem ação, como a erva dos campos; a dura realidade ensina porém o contrário. …. Todas as grandes conquistas que a história do direito registra – abolição da escravatura, da servidão,  da liberdade pessoal, das crenças, etc. foram alcançadas à custa de lutas ardentes, na maior parte das vezes continuada através dos séculos, por vezes são torrentes de sangue…A ideia do direito será eternamente um movimento progressivo de transformação”2.
É isto. Sem luta não há direito, que não bastar estar expresso em lei. E as lutas parciais, localizadas, são importantes mas não suficientes. É preciso que Pinheirinho seja sentido como problema geral do povo brasileiro, carente dos direitos sociais constitucionais: moradia, saúde, educação, previdência, etc. e que o povo, consciente, organizado e mobilizado, garanta seus direitos.
Analisamos a estrutura do Poder Judiciário. É claro que nem todos os juízes padecem de visão parcial, nem cometem os desvios apurados pelo CNJ e pelas Corregedorias de Justiça. Muitos compreendem a função social do Direito e não são meros “operadores”. Alguns estão se organizando na Associação de Juízes para a Democracia. ´
É de importância fundamental a atitude desses magistrados. Mas a mudança estrutural e definitiva do Poder Judiciário como de todo o Estado, só acontecerá com instâncias legislativas, executivas e judiciárias assentadas no Poder efetivo do povo.
1 Rudolf Von Ihering, A Luta pelo Direito, Martim Claret,2009, São Paulo).
2 Rudolf Von Ihering,obra citada.
Luiz Alves, advogado

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Corrupção é filha legítima da democracia burguesa

Cinco anos após ter acatado a denúncia da Procuradoria Geral da República e de ter aberto o processo contra 38 pessoas, em sua maioria empresários, deputados, ex-ministros, donos e diretores de bancos acusados de crime de corrupção, peculato¹, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou o julgamento da Ação Penal 470, o chamado “mensalão’’.
Na defesa oral perante o Supremo, a maioria dos advogados dos réus defendeu que não houve compra de votos no Congresso Nacional, mas financiamento ilegal de campanha eleitoral de partidos políticos, o caixa 2.
O advogado do deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP), Marcelo Luiz Ávila de Bessa sustentou que seu cliente,  à época presidente do Partido Liberal (PL), recebeu R$ 10 milhões do PT mas referente não à compra de votos, e sim para a campanha eleitoral dos candidatos do PL e apoiar a chapa Lula-José Alencar em 2002. Marcelo Bessa relatou que  houve um “acordo eleitoral para garantir a aliança entre o PT e o PL nas eleições presidenciais de 2002, o que desencadeou o acordo financeiro”. “Existia um temor com relação ao PT, que seria inimigo dos empresários, que entraria para estatizar a economia e se tornava necessário colocar um empresário que acalmasse e desse aparência à chapa, de que não se teria um governo ‘esquerdizante’. [...] Houve ‘partilhamento’ do caixa de campanha. Fez-se uma proporção então: três quartos daquele caixa ficariam com o PT (R$ 30 milhões) e um quarto (R$ 10 milhões), com o PL. Não se faz campanha sem dinheiro. E isso não é errado”, finalizou o advogado.
Na acusação, o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, afirmou que Valdemar Costa Neto recebeu, nos anos de 2003 e 2004, a quantia de R$ 8,8 milhões para votar no Congresso Nacional a favor do governo federal.
Arnaldo Malheiros Filho, advogado de Delúbio Soares, declarou em defesa de seu cliente que “O procurador disse que nunca foi respondida uma pergunta: por que tudo isso era transmitido em cash, porque não se faziam transações bancárias? Na verdade, porque era ilícito. Delúbio é um homem que não se furta responder por aquilo que fez, só não quer ser condenado pelo que não fez. Que ele operou o caixa 2 de campanha, operou. Que é ilícito é, isso ele não nega”.
Mas qual a diferença entre comprar votos de deputados para votarem no Congresso Nacional ou comprar o apoio de partidos inteiros, e consequentemente de suas bancadas, por meio do financiamento da campanha eleitoral?  Na essência, nenhuma.
Porém, o financiamento ilegal de campanha eleitoral, o caixa 2, embora proibido, não leva ninguém para a cadeia, pois os crimes eleitorais e de peculato prescrevem em dois anos. Ora, como um processo por corrupção demora pelo menos de três a cinco anos, alguns até dez anos, mesmo que o réu seja condenado ele não irá para a cadeia. Esta é uma das razões para não termos nenhum preso por corrupção entre os mais de 500 mil detentos existentes no Brasil, apesar dos constantes desvios de dinheiro, das licitações fraudadas, das obras inacabadas, de construtoras recebendo aditivos milionários,  não termos nenhum preso por corrupção entre os mais de 500 mil detentos existentes no Brasil.
Mensalão tucano
Não é a primeira vez que um esquema de compra de votos no Congresso Nacional ou de partidos é denunciado no país.
Em 1997, os deputados Ronivon Santiago e João Maia, do PFL do Acre, confessaram em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, terem recebido cada um R$ 200 mil para votar a favor da emenda que estabelecia a reeleição para Presidente da República, favorecendo assim ao então presidente FHC. Os dois deputados disseram ainda que o intermediário do governo para a compra dos votos era o próprio presidente da Câmara dos Deputados, o deputado Luiz Eduardo Magalhães, filho de Antônio Carlos Magalhães, mais conhecido como Toninho Malvadeza. A emenda da reeleição foi aprovada, FHC foi reeleito e continua recebendo até hoje salários de ex-presidente, e nenhum dos envolvidos foi sequer condenado.
Ainda aguarda julgamento no STF um esquema de corrupção operado em favor do PSDB pelo mesmo Marcos Valério e o Banco Rural quando da campanha pela reeleição do Governador Eduardo Azeredo em 1998, o “mensalão” do PSDB. Em 3 de dezembro de 2009, por cinco votos a três, o STF aceitou a denúncia contra o senador Eduardo Azeredo. Mas, passados quase três anos, o PSDB segue governando o Estado de Minas Gerais e Eduardo Azeredo, agora deputado federal, continua no Congresso Nacional votando leis, igual a Collor, Sarney, Renan Calheiros, entres outros.
A verdade é que tanto o caso da compra de votos para aprovar a emenda da reeleição de FHC quanto a compra do apoio de partidos por meio do financiamento ilegal, são evidências claras do peso do dinheiro e dos que o possui, a classe capitalista, nas eleições realizadas numa democracia burguesa.  Daí a máxima de que “não se faz campanha eleitoral sem dinheiro” ou que “para ganhar uma eleição é preciso ter muito dinheiro”.
Um prova disso são os gastos que os quatro principais candidatos à prefeitura de São Paulo pretendem realizar nas eleições de 7 outubro: José Serra, do PSDB, declarou que vai gastar  R$ 98 milhões. Fernando Haddad, do PT, fixou em R$ 90 milhões. Gabriel Chalita, do PMDB, gastará até R$ 70 milhões e  Celso Russomanno, do PRB, prevê gastar R$ 30 milhões. Diga-se ainda que tais partidos são também os que dispõem de mais tempo na propaganda de rádio e de TV e também de exposição nos grandes meios de comunicação. Evidentemente, que com gastos milionários como esses, é difícil um candidato de um partido operário sem compromisso com a classe capitalista vencer uma eleição. Por isso, antes de se proclamar o resultado da eleição, os institutos de pesquisas fazem suas previsões de quais são os favoritos para ganhar as eleições, ou seja, os que têm mais dinheiro para gastar na campanha.
De fato, numa sociedade capitalista, o dinheiro está concentrado nas mãos dos donos dos bancos, das indústrias, das terras. Estes escolhem que partidos ou políticos financiar visando a ter o controle dos governos e dos parlamentos. Vitoriosos, esses partidos ou seus políticos tratam de retribuir as ricas doações recebidas com licitações, subsídios, favores, nomeação para cargos, negociatas, anistia de dívidas (Código Florestal), sonegação, favorecimento nos pagamentos a receber do governo, etc.
Em tal sistema, os partidos que não têm compromisso profundo com os trabalhadores, que não são verdadeiramente revolucionários ou deixaram de ser, terminam prisioneiros dos interesses dos donos do dinheiro e pouco a pouco vão mudando suas posições políticas, seus programas e traindo seus princípios. Alegam para a nova postura pragmática que os tempos são outros, embora o capitalismo continue promovendo a exploração do homem pelo homem, realizando guerras, espoliando as riquezas de dezenas de países, enfim, mais feroz e violento do que no século passado.
Financiamento público e privado das eleições
Como, então, garantir eleições verdadeiramente democráticas e limpas?
É claro que é preciso mudar o sistema eleitoral. Entretanto, o sistema eleitoral não existe por obra e graça do Espírito Santo. Ele é filho legitimo do próprio sistema econômico e político existente na sociedade, isto é, o capitalismo. Basta observar que em todas as democracias burguesas, bilhões são gastos nas eleições e a classe capitalista, dona do capital, termina controlando os governantes.
Os EUA, principal país capitalista do mundo e considerados como a democracia burguesa mais avançada do Planeta, é também onde mais se gasta dinheiro nas eleições: somente na eleição presidência deste ano, estima-se que serão gastos mais de US$ 1,5 bilhão.
Mitt Romney, candidato a presidente do Partido Republicano, tem entre seus principais financiadores os bancos Goldman Sachs, JP Morgan, Morgan Stanley Bank of America, Crediti Suisse Group e o conglomerado Koch Industries, que atua em petróleo, agropecuária, financeira, minérios, etc. Até agosto, a campanha já tinha arrecadado US$ 546 milhões (R$ 1,1 bilhão). Em troca desse apoio e com o pretexto de incentivar a economia, Romney defende eliminar os impostos para os mais ricos, cortar os programas sociais de assistência à saúde de idosos e crianças e ampla liberdade de ação para o capital financeiro.
Também Barack Obama, candidato à reeleição pelo Partido Democrata, segundo estudo do Center for Responsive Politics, arecada um terço do dinheiro de sua campanha no setor financeiro.
Diante desse quadro, alguns defendem que basta fazer uma reforma eleitoral e substituir o financiamento privado das eleições pelo financiamento público. Porém, mesmo nos países onde existe o financiamento público, o financiamento privado legal ou ilegal termina prevalecendo.
Vejamos o caso da França. Em 29 de fevereiro de 1993, o país aprovou a Lei para a prevenção da corrupção e da transparência, com o objetivo de controlar os partidos, candidatos e o uso de dinheiro nas eleições.  Dentre as várias regras, a lei estabelece que as doações  feitas aos candidatos são públicas, sendo proibidas doações de cassinos e de procedência estrangeira; que a prestação de contas é obrigatória, com  a  elaboração de balanços por parte de candidatos e partidos e  discriminação das receitas recebidas por origem e despesas por natureza.
 Contudo, como ficou provado, o ex-presidente Nicolás Sarkozy desrespeitou a lei, e recebeu recursos ilegalmente da dona da L’Oréal, Liliane Bettencourt, para sua campanha eleitoral. Segundo a investigação em andamento, Liliane Bettencourt recebia proteção do governo para sonegar somas milionárias de impostos e em troca dessas vantagens tributárias entregava envelopes com dinheiro a membros do partido e ao próprio Sarkozy em jantares em sua mansão. Entretanto, devido à imunidade que tinha como presidente, só após deixar o cargo Sarkozy está sendo investigado.
Antes dele, o ex-presidente Jacques Chirac foi condenado a dois anos de prisão por ter criado postos de trabalho fictícios na Prefeitura de Paris e usado o dinheiro para sua campanha presidencial, mas, por conta da idade avançada, não cumpriu a pena.
Na Inglaterra, em 2006, o governo de Tony Blair foi denunciado por vender cargos no parlamento e títulos de lordes em troca de um empréstimo de 20 milhões de euros do empresário Gulam Noon para a campanha eleitoral do Partido Trabalhista. Noon recebeu o título de lorde após o empréstimo, mas com o escândalo sua nobreza foi suspensa.
O poder econômico
Como vemos, tanto nos EUA, na França e na Inglaterra, países de democracia burguesa e que possuem financiamento público de campanha, a corrupção e a manipulação das eleições pela classe rica determinam o jogo eleitoral. Trata-se de algo natural para um sistema egoísta cujo princípio maior é de quem tem riqueza tem o poder de escolher os governantes que a protejam e a façam frutificar. Em outras palavras, no século XXI, a democracia burguesa continua sendo “uma democracia limitada, amputada, falsa e hipócrita, um paraíso para os ricos e um engano para os explorados e para os pobres” (Lênin, A Revolução Proletária e o Renegado Kaustky). Ainda mais, hoje, quando todo esse processo é amparado por uma poderosa máquina de propaganda dos meios de comunicação controlados por monopólios e pelos institutos de pesquisas, a serviço daqueles que têm dinheiro para contratá-los com o único objetivo de manipular a opinião popular.
Ademais, num país onde cerca de 56 milhões de pessoas moram em comunidades com infraestrutura precária, mais de 20% da população vivem em situação de indigência ou extrema pobreza, a saúde é privatizada, e a riqueza produzida pela sociedade está concentrada nas mãos de uma reduzida minoria, ao ponto de o Brasil ser o 4º país de maior desigualdade da América Latina, como revelou relatório da ONU divulgado em agosto, a população torna-se alvo fácil para políticos que distribuem não só dinheiro, mas também água, óculos, cestas-básicas ou trocam votos por empregos.
Desse modo, o financiamento público da campanha pode durante um curto período diminuir o perverso efeito do dinheiro e dos seus donos nas eleições, mas logo os capitalistas encontram formas e maneiras de driblar as leis e garantir a continuidade da manipulação do processo eleitoral. Às vezes, quando acontece de um candidato preferido não obter sucesso, graças ao poder econômico que detém, os capitalistas tratam de subornar e corromper os eleitos para que seus interesses continuem intocáveis e o poder em suas mãos.
Logo, o peso do dinheiro, ou seja, do poder dos donos das indústrias, dos bancos e do agronegócio nas eleições, só deixará de existir quando a riqueza não for mais propriedade de uma minoria e passar para o controle social, para as mãos dos trabalhadores e do povo.
Por isso, a luta deve ser para mudar por completo o sistema e não apenas fazer uma reforma eleitoral. Para, entretanto, alcançar esse objetivo é essencial, além de realizar uma grande campanha de denúncias do sofrimento do povo e defender de maneira firme os direitos dos trabalhadores e da juventude, convencer as massas das limitações do sistema eleitoral burguês e de sua falsa democracia. E a melhor forma, no momento, de realizar essa agitação é denunciar a corrupção e a manipulação das eleições pelas classes ricas e seus partidos com o objetivo de manter a pobreza e aprovar leis e benefícios para as elites. Mas além da denúncia, é preciso convocar os trabalhadores, a juventude e todos os pobres a votarem nos candidatos verdadeiramente revolucionários e que lutam e defendem uma revolução popular para construir uma nova sociedade, a sociedade socialista, onde não haja nem ricos nem pobres. Em outras palavras, a principal tarefa dos revolucionários nas eleições é desenvolver a consciência das massas e organizá-las revolucionariamente no Partido Comunista Revolucionário.

Lula Falcão,
membro do Comitê Central do PCR

sábado, 21 de janeiro de 2012

Hackers e Resistentes


Carlos Alberto Lungarzo é matemático, nascido na Argentina, e mora no Brasil desde sua graduação. É professor aposentado da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), São Paulo, e milita em Anistia Internacional desde há muito tempo, nas seções mexicana, argentina, brasileira e (depois do fim desta) americana. Tem escritos vários livros e artigos sobre lógica, estatística e computação quântica, mas seu interesse tem sido sempre os direitos humanos. MATERIA REPRODUZIDA DA REVISTA Consciência.Net
Hackers e Resistentes

Carlos A. Lungarzo
Em 1968, o líder negro americano caribenho Kwame Ture (1941-1998), mas conhecido como Stokely Carmichael, referiu-se otimistamente às enormes revoltas dos afrodescendentes que colocaram várias cidades do norte dos EEUU à beira do colapso, como reação contra o racismo da sociedade americana. Atribui-se a ele esta frase:
“Os EEUU conseguem matar milhões de vietnamitas porque os atacam desde fora. Mas, nós [negros] estamos dentro de seu país, misturados entre eles, e não podem nos bombardear sem atingir também sua própria gente”.
No momento atual, essa frase de Stok é de crucial importância. As corporações americanas estão tratando de afogar a liberdade que oferece a Internet, secundados por seus mais vermiformes subservientes da América Latina, como os propugnadores de uma lei brasileira chamada por seus inimigos de “AI5 cibernética”, em lembrança do Ato Institucional número 5 da ditadura militar, que cortou absolutamente todas as liberdades.
Mas os resistentes a esta opressão contra a liberdade de informação não podem ser assassinados massivamente como iraquianos e afegãos, pois não estão num único espaço físico e não são diferenciáveis pela cor de pele, nem pelo sotaque nem pelas vestes.
Os revolucionários da Internet estão em todas as partes, como os negros americanos dos anos 60 e, ainda melhor, eles ocupam espaços em diferentes países, podendo formar uma rede de solidariedade como jamais teria sido sonhada há 30 anos.
A idéia de escrever este artigo apareceu em minha mente após ler o post de hoje de Celso Lungaretti sobre o site Megaupload, um texto curto, mas excelente. (Vide)
A Batalha da Internet
Faz tempo que setores de direita das Américas e da Europa querem amordaçar a Internet. As razões são múltiplas. Por um lado, está o argumento de que os internautas que baixam música e filmes para uso pessoal, sem interesse comercial, podem levar à falência as grandes empresas gravadoras e de cinema. Para tocar a sensibilidade pública, os autores deste apelo ainda acrescentam que esses internautas prejudicam os autores, porque estes não recebem direitos quando os clientes “roubam” em vez de comprar.
O respeito pelo autor seria justo em muitos casos, mas acontece que os que mais precisam desses direitos (que são o 99% de autores desconhecidos que não recebem fortunas por seu trabalho), justamente são aqueles ludibriados pelos empresários, que, pelo menos no Brasil, quase nunca pagam sua porcentagem. Eu pessoalmente decidi colocar vários livros meus na Internet (textos sobre lógica, matemática, e o dez vezes editado O Que é Ciência), quando vi que meus direitos de autor por mais de 30.000 exemplares eram furtados pelo grupo familiar que dirige a editora que os publicou.
Mas, há outros motivos para o novo nazismo cibernético. Para o capitalismo, tão importante como o benefício econômico é o poder de controlar opiniões, de censurar, de cercear a propagação das idéias libertárias, de continuar impondo superstições, crendices, slogans, evitando que a população se eduque, pois, pela primeira vez, países como os da América Latina têm uma oportunidade (ainda remota, mas viável) de tornar esclarecidas as massas hoje mantidas na desinformação.
Importante também para o fascismo neoliberal é a formação de um catálogo de possíveis inimigos, de pessoas que denunciam abusos, que propõem uma sociedade mais humana, que defendem perseguidos, etc. O pretexto de cuidar os direitos de autor e de evitar os roubos informáticos de bancos (sic!) foi usado pela máfia Brasileira da “AI5 cibernética” para justificar a identificação de todos aqueles que entrem na Internet. Isto seria o maior elenco de possíveis vítimas que nem a Inquisição, nem o Nazismo, nem o Macartismo, se tivessem podido trabalhar juntos, jamais poderiam ter obtido.
As campanhas pela Internet não penetram ainda em todos os meios, porque modificar o paradigma de comunicação talvez não seja possível em duas gerações, mas elas têm-se mostrado poderosos aliados das causas nobres. A defesa dos direitos humanos, da ecologia, dos direitos dos animais, do pacifismo, do antirracismo, do antifascismo, do combate contra o estado policial/militar, etc., são hoje objetivos mais visíveis do que eram 10 anos antes.
Por sua vez, as causas mais sujas, como o racismo, o belicismo, o ódio, etc., não se beneficiam tanto da Internet, embora devamos colocar atenção nos perigos deste fenômeno, e exigir do Ministério Público que se tomem as medidas já previstas em lei contra mensagens de ódio.
A Internet não é tão útil à direita, porque, por um lado, ela dispõe da mídia convencional, muito mais clássica e contundente, que entra em todos os lares e só precisa a vocação do público de se intoxicar passivamente. Mas, por outro lado, embora a WWW faça possível que pessoas desconhecidas e sem nenhum poder social divulguem seu pensamento, não fabricam o pensamento, pois este deve ser fornecido pelo usuário. Então, a direita, órfãa de pensamentos coerentes, fica esperando que a própria Internet fabrique suas matérias.
Um fato muito evidente durante a luta pela não extradição do escritor italiano Cesare Battisti, foi que, embora os blogues de ódio se multiplicassem e se enchessem de palavrões e pieguices demenciais, a maioria deles apenas era lida pelos que já pensavam daquele jeito e simplesmente encontravam nesse lixo um espelho para suas próprias taras.
Era como masturbar-se vendo a própria imagem, o que, para sermos justo, só vale se a pessoa se considera atraente para si mesma. Como alguns desses fascistas tinham certa autocrítica, decidiram abdicar desta contemplação e poucas vezes entraram naqueles sites infetos.
Por causa da possibilidade (ainda incerta) de que o Congresso americano aprove duas leis de policiamento de Internet (SOPA e PIPA), vários sites importantes, dos quais o mais gigantesco é o da Wikipedia, decidiram um “apagão” durante o 18/01, como protesto contra o que poderia ser, se aprovado, o maior projeto mordaça na Internet.
Mas, com ou sem SOPAS e PIPAS, o FBI continuou sua provocação, fechando o valioso portal de Megaupload, e prendendo quatro de seus coordenadores.
A resposta dos resistentes da Internet não se fez esperar (vide). Um grupo autodenominado Anonymous (vide) se atribuiu a desconexão de sites do Ministério da Justiça, do FBI e de empresas de Copyright dos EEUU, numa ação de envergadura ainda nunca vista no ciberespaço, que atingiu redutos considerados inexpugnáveis e, segundo foi difundido pelos autores, mobilizou mais de 5.300 voluntários.
O sistema defensivo dava a oportunidade de colaborar a pessoas que não teriam o know how e talvez tampouco desejassem assumir o risco de agir diretamente: Anonymous exportou livremente links que podiam ser voluntariamente clicados (se quisessem), por aqueles que os recebiam, colocando o fluxo de sua máquina na corrente de ação contra os servidores dos algozes.
É bem sabido que a Internet reúne o maior conjunto de voluntários por causas nobres, entre os que se contam excelentes especialistas em informática, capazes de responder com eficiência ao fogo destrutivo disparado por instituições cujo poder financeiro e operacional é infinitamente maior.
Este assunto merece um esclarecimento. Para a maioria da população, um profissional da computação é identificado com um jovem que gastou a totalidade de seu salário com as mensalidades de uma faculdade de centésima categoria, para obter um diploma que lhe permite fazer alguns ajustes num sistema operacional, desenvolver um software administrativo, e reproduzir, por exemplo, um pacote para espionar os moradores de num prédio. Estes jovens estão a soldo de empresas de todos os tamanhos que lhes pagam apenas o suficiente para que se sintam sábios e importantes.
Mas, muitas pessoas ignoram que há milhares de jovens esclarecidos, apaixonados não pelo aspecto nerd da computação, mas pelas grandes possibilidades que a informação oferece para melhorar nosso planeta, e que atuam, seja em grupo, seja individualmente, como antídotos contra a poluição mental disparada desde os grandes provedores das empresas de telecomunicações.
Um fenômeno como Wikileaks não poderia ter surgido de um grupo de yuppies interessados em desenvolver “shells” para bancos, ou sistemas de tempo real para o exército americano (que, dito seja de passagem, de vez em quando falham e acabam gerando “fogo amigo”). Tampouco são matemáticos ou computólogos que vendem pacotes financeiros de eficiência inverificável a investidores inescrupulosos e ignorantes (mas com muito dinheiro).
Wikileaks surgiu de um grupo de intelectuais, cientistas, jornalistas e, especialmente, ativistas de direitos humanos, ecológicos e da informação, de muitos países diferentes. Entre eles há grandes experts em computação, alguns dos fundadores do Fórum Social Mundial, dissidentes chineses e de outras ditaduras, etc., todos os quais (cerca de 2000) são voluntários. Eles entraram na organização não por hobby, mas seriamente preocupados pela falta de liberdade e direitos no planeta. A organização não cultua nenhum sectarismo e deixa conhecer o material que obtém (preservando a fonte) a algumas agências e órgãos da mídia (a minoria séria e bem intencionada), que respeita a liberdade de opinião. (Para mais detalhes, vide)
A importância de Wikileaks foi diminuída com azedo despeito por alguns jornalistas brasileiros que disseram que “não havia nada de novo” naquelas propostas da nova ONG. Mas seus patrões americanos, geralmente melhor informados, não participam deste ufanismo. Não é por acaso que durante anos Julian Assange é perseguido pelos EEUU, em cumplicidade com parte de judiciário sueco e dos tribunais britânicos, e que membros do partido Republicano dos EEUU tem proposto a pena de morte para ele.
Nenhum é tão importante como Wikileaks, mas há outros grupos de defensores da liberdade na Internet que trabalham ativamente. Não só é necessária a existência de grupos que podem difundir abundante informação confidencial, mas também grupos de ação que preparam os contra ataques contra governos e empresas que tentam matar essa liberdade.
Como os grupos de direitos humanos (os autênticos), as organizações Verdes, os partidos Piratas (iniciados na Suécia), as ONGs pelas liberdades sexuais, pela defensa das crianças e das mulheres, os grupos antirracistas e outros, estes resistentes da Internet fazem parte de uma esquerda humanista muito diferente dos velhos partidos.
O Que é um Hacker?
O termo hacker foi demonizado pelo sistema capitalista e seus ideólogos e usado como desqualificação, da mesma maneira em que palavras como subversivo e terrorista são aplicados a qualquer que luta contra a opressão social ou, ainda, contra quem se manifesta contra ela, mesmo sem fazer nenhum ato físico.
De acordo com o dicionário da gíria hacker, um hacker é alguém interessado em computação que tenta explorar ao máximo as possibilidades dos sistemas programáveis, analisando de maneira profunda sua estrutura, em oposição à atitude mais comum na maioria dos usuários, que é conhecer o indispensável.
Veja uma excelente e objetiva descrição do projeto hacker aqui.
Os hackers fazem parte de uma subcultura do mundo da informação, e geralmente se identificam com:
: A liberdade de expressão, de informação, de distribuição do conhecimento e de acesso às fontes.
: A defesa de privacidade dos que fornecem informação, mantendo se sigilo, caso estes entendam que podem sofrer retaliação.
: A transparência de todos os atos públicos, e a cobrança dessa transparência dos poderes estabelecidos.
: O combate à comercialização do conhecimento, a censura, e ao patenteamento do conhecimento científico e natural.
: A unidade dos que defendem a informação e a aquisição de consciência através do contato internacional contínuo, considerando desprezíveis barreiras políticas, fronteiras nacionais, e outros artifícios criados por interesses políticos, econômicos, militares e religiosos.
Entre os grandes movimentos hackers estão aqueles que criaram o software livre, algo que o Brasil se recusou a adotar, preferindo as engenhocas da Microsoft, cuja compra foi mais lucrativa para os funcionários encomendados para realiza-la.
Linus (Luis Benedito) Torvalds, grande pesquisador nórdico, inventor de uma versão flexível de linguagem Unix (o LINUX) é um dois hackers mais conhecidos.
Legítima Defesa
Parece justo na maioria dos casos que, se alguém está mirando em tua direção para te matar e você tiver a oportunidade, possua o direito de se defender, mesmo se a defesa for letal para o atacante. Mas, como qualquer ação letal é desagradável, se você for atacado, pelo menos tem o claro direito de destruir a arma de seu inimigo, caso tenha suficiente pontaria e rapidez (como sabem os que assistiram muito faroeste na infância onde o mocinho faz estourar o Colt do bandido).
Na guerra internética, a questão é ainda mais clara. Se alguém esmaga teu direito à informação, à educação, ao desenvolvimento da tua inteligência, você tem todo o direito de destruir a arma com a qual se consuma esse ataque. E, melhor ainda, neste caso você sabe que não matará nem ferirá ninguém. Apenas fará cair os lucros desaforados dos representantes do fascismo de mercado. E, se seu exemplo se disseminar, talvez dentro de algumas gerações se consiga derrotar totalmente o monopólio capitalista da informação, e se tenha uma verdadeira sociedade da informação, que é o oposto exato do processo de “poluição de cérebro” (quem disse “lavagem”?) que faz a mídia.
Para acabar com a resistência internética, os recursos dos empresários e seus aliados políticos e militares são insuficientes, porque não há maneira de comprar as mentes mais autênticas (que são muitas mais do que os feitores capitalistas acreditam). Eles investem bilhões em estruturar a Inteligência Artificial e conseguem alguns triunfos, mas isso é insuficiente, porque se precisa também a inteligência natural e a sensibilidade biológica. É verdade que essa inteligência pode resolver muitos problemas trilhões de vezes mais rápido que o mais talentoso dos humanos, mas os problemas resolvidos são sempre os que não requerem de criatividade. O caso mais conhecido para o grande público, que causa sempre confusão, é o do xadrez.
Hoje ninguém pode ser tão desafiante como David Levy, o enxadrista que, em 1978, pensava que poderia vencer qualquer computador futuro. Muitos antes disso, em 1913, o matemático alemão Ernst Zermelo provou que jogos como o xadrez são algorítmicos, de modo que o jogador que começa o jogo (caso nunca cometesse um erro, e excluindo a possibilidade de empate), deveria ser o primeiro em dar mate. (Uma versão deliciosamente simples e elegante para público no profissional do teorema de Zermelo pode ver-se aqui).
Para construir uma máquina invencível pelo homem, o problema é conseguir a velocidade suficiente para cumprir os tempos oficiais (que o jogador humano pode aproveitar melhor por sua capacidade intuitiva), o que requer, no final da linha de produção, um planejamento que só pode ser feito por uma inteligência humana. Essa máquina talvez já esteja sendo construída, pois desde a Deep Blue (o supercomputador IBM que jogou contra Garry Kasparov em 1998), os progressos têm sido rápidos e frenéticos.
Além do xadrez, os computadores podem vencer os humanos em muitos aspectos. Isto, às vezes apresentado como grande descoberta por charlatões e escritores de (pseudo) ciência ficção, não é nenhuma novidade. Já os babilônicos descobriram que as máquinas podem ser superiores ao homem em muitos aspectos… como lançar projéteis, por exemplo.
Mas, em qualquer paradigma viável de Inteligência Artificial, um robô não pode ter iniciativa. Quando isto for possível (se for), como nos romances de Asimov, será porque teremos dado um salto qualitativo e aí haverá um novo conceito de ser humano. Mas, estes novos humanos também terão sensibilidade e, embora feitos de chips e não de neurônios, também se revoltarão contra seus tiranos como os “humanos convencionais” fazem. Por sinal, Asimov não mostra a possibilidade de um mundo de homens mecanizados, mas de máquinas humanizadas…
A inteligência não é garantia de honestidade nem de bons propósitos. Como contraexemplo está o terceiro maior cientista do século 20 (Werner Heisenberg), que fora partidário do nazismo. O dogma de que a virtude e o saber vão juntos é uma herança platônica, sacralizada por Santo Tomás. Talvez ele tenha inventado esse slogan para consolar-se pela falta de neurônios nas cabeças de seus colegas de devoção.
Mas, a inteligência global de um sujeito não deve ser confundida como a capacidade específica para um tipo de ação que requer uma rotina ou uma forma parcializada de concentração mental (como tem o cientista ultra especializado, o jogador de xadrez ou aqueles agentes de CIA que conseguem decorar mais de mil números de telefone).
Estou pensando na inteligência total, aquela que permite discernir a verdadeira estrutura da realidade, incluindo, é claro, a realidade social com suas relações de dominação e resistência. Esse tipo de inteligência conduz, inevitavelmente, a entender que qualquer forma de dominação por classe ou corporações é desumana, e se existem algumas mentes brilhantes que se vendem ao sistema, isso acontece porque a sensibilidade e a inteligência do sujeito é derrotada por sua própria ambição.
Mas, a experiência mostra que há grande quantidade de pessoas realmente inteligentes que não vendem seus neurônios ao capitalismo e que encontram sua verdadeira satisfação em se proclamar livres.
Casos de grandes talentos, como os do grupo Manhattan, que colocaram sua inteligência ao serviço da barbárie militar ou policial, são exceções. Como todos sabem, Einstein se arrependeu de ter sido apenas um peão no tabuleiro do Pentágono, e justificou sua colaboração com os militares (aos que dedicou numerosas amostras de desprezo em suas obras sociológicas) por causa de seu terror ao nazismo.
É verdade que há numerosos matemáticos e físicos que trabalham em projetos dos exércitos ou das políticas, mas eles são quase sempre mentes doentias, ou então, medíocres tecnocratas sem nenhuma criatividade que encontram em seus patrões não apenas dinheiro, mas um reconhecimento que nunca teriam na comunidade científica. Não é por acaso que a história registre com detalhe os grandes cientistas que se entregaram, por dinheiro, vaidade ou fanatismo, a projetos destrutivos. Eles podem ser lembrados porque são poucos. Entretanto, se fizermos uma lista dos grandes cientistas italianos do século 20, veríamos que mais de 80% eram de esquerda.
O caso de Brasil é bem claro: os grandes físicos brasileiros, como Mário Schemberg, Leite Lopes e muitos outros, foram devotados ativistas pelo socialismo e os direitos humanos e sofreram a maníaca perseguição das casernas, enquanto os postos científicos nas áreas bélicas e repressivas foram cobertos por tecnocratas inexpressivos, que galgaram secretarias, reitorias e empregos de dedos duros. Por sinal, a dispersão e aniquilamento desses talentos por militares e fascistas (incluindo o Estado Novo), explica por que o Brasil nunca teve um prêmio Nobel, apesar de enorme excelência destes pesquisadores. Em síntese: cientistas mercenários há muitos, mas os de grande talento são poucos. Os mais talentosos são quase todos progressistas, e eles são os que criam ferramentas de defesa contra a ofensiva tecnológica da direita.
Estas considerações otimistas não impedem de pensar que as elites podem acabar ou cercear a liberdade na Internet. Eles não têm a racionalidade, mas têm abundante força bruta.
Mas o preço para fazer isto deveria ser muito alto. Se fosse instalado um sistema de censura rígida como em ditaduras truculentas, tipo China ou Irã, com certeza mesmo os setores de centro-direita se oporiam. O caso de Cuba mostra que um sistema medianamente autoritário, que possua alguns limites, não pode impedir a sobrevivência, mesmo dura, de alguns blogueiros independentes. Precisa-se de uma violência ainda maior para calar qualquer resistência.
Portanto, os que tenham condições ou vocação pela informática e estejam dispostos a ajudar a construir um mundo melhor, o melhor que podem fazer é juntar-se aos hackers da resistência, porque, ao combater com os métodos de controle e repressão das empresas de comunicações e seus governos títeres, farão possível a difusão de comunicação e, portanto, da consciência.
Em alguns anos, o mundo terá vários milhões de hackers, e cada vez o sistema terá mais dificuldade em combatê-los. É uma alternativa duríssima, mas vale o risco: o mundo oscila entre voltar à repressão feroz do nazismo, mas agora muito mais letal, e a possibilidade de tornar-se uma grande comunidade humanitária.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

"A Privataria Tucana" entra no ranking de livros mais vendidos; PSDB processará autor


Debora Melo e Guilherme Balza
Lançado em 9 de dezembro deste ano, o livro “A Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., alcançou o topo do ranking de livros mais vendidos do site especializado em mercado editorial PublishNews. O site contabiliza as vendas de 12 livrarias –Argumento, Cultura, Curitiba, Fnac, Laselva, Leitura, Martins Fontes SP, Nobel, Saraiva, Super News, Travessa e da Vila.
A obra aponta supostas irregularidades nas privatizações ocorridas durante os governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). O livro afirma também que amigos e parentes de José Serra mantiveram empresas em paraísos fiscais e movimentaram milhões de dólares entre 1993 e 2003.
Entre 12 e 18 de dezembro --última contabilização--, foram vendidos 9.032 exemplares do livro, que ficou atrás somente da biografia de Steve Jobs, de Walter Isaacson (17.784 unidades vendidas), da ficção “As esganadas”, de Jô Soares (16.150), e de “O Cemitério de Praga”, do semiólogo italiano Umberto Eco (9.083).
Na semana anterior (5 a 11 de dezembro), foram vendidos 2.414 exemplares do título em três dias, já que a obra foi lançada no dia 9.
Segundo a Geração Editorial, que publicou o livro, a primeira edição teve uma tiragem de 15 mil exemplares, que se esgotou na editora. Foram reimpressas 60 mil unidades, já que, de acordo com a Geração Editorial, cerca de 50 mil já tinham sido vendidos às livrarias antes de o lote checar à editora.
A Fnac afirmou que os exemplares da primeira edição do livro se esgotaram em três dias, e que o principal canal de vendas foi a internet. Uma nova encomenda foi feita no mesmo dia, mas os livros sumiram das prateleiras em três dias. Quanto à segunda edição, que chegou às lojas no último dia 16, a Fnac informou que 25% dos exemplares já tinham sido comprados por clientes na pré-venda.
A livraria comparou as vendas de “A Privataria...”, nos primeiros dias após o lançamento, às de grandes apostas editoriais do ano, como a biografia de Jobs e o último livro de Jô Soares. Assim como o próprio autor, a Fnac atribui a grande procura pelo livro à repercussão dada ao título nas redes sociais.
Já Saraiva afirmou que, para um período de cinco dias, o livro bateu o recorde histórico de encomendas na Saraiva.com. A empresa aponta que as vendas foram impulsionadas pelo destaque que o título ganhou nas redes sociais. Na Livraria da Folha, a obra foi a mais vendida entre todas as categorias na semana de 19 a 26 de dezembro.
O autor se disse surpreso com a vendagem. “Ninguém esperava. Os editores não esperavam, as livrarias não esperavam”, disse. “As redes sociais têm participação importante. Hoje já não se precisa mais de repercussão em programas de TV, em grandes veículos”, afirmou.
PSDB processará autor
Em nota, a executiva nacional do PSDB afirmou que irá processar Ribeiro Jr. pelas acusações feitas no livro. A assessoria de imprensa do partido disse que a área jurídica da legenda está juntando elementos para entrar na Justiça contra o autor, o que deve ocorrer ainda nesta semana.

Veja o livro na Livraria da Folha

Com base no livro, a base governista protocolou, em 21 de dezembro, por meio do deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB), pedido para abertura de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar as supostas irregularidades nas privatizações e outras acusações contidas no livro.
Um dos parentes de Serra citados nas acusações é a filha do ex-governador, Verônica Serra. De acordo com o livro, ela foi sócia da empresária Verônica Dantas numa firma de prestação de serviços financeiros na internet. Verônica é irmã do banqueiro Daniel Dantas, proprietário até 2005 da antiga Brasil Telecom, empresa formada com a privatização da Telebrás.
Em nota divulgada hoje (27), Verônica negou ter sido sócia da irmã de Dantas: “participar de um mesmo conselho de administração, representando terceiros, o que é comum no mundo dos negócios, não caracteriza sociedade. Não fundamos empresa juntas, nem chegamos a nos conhecer”. Sobre o livro, ela disse se tratar de um produto de uma “organizada e fartamente financiada rede de difamação” que “dedicou-se a propalar infâmias intensamente através de um livro e pela internet” para atingir seu pai.
Já Serra, por meio de sua assessoria, disse que o livro é uma “coleção de calúnias que vem de uma pessoa indiciada pela Polícia Federal”. FHC, também em nota, afirmou que a obra é uma “infâmia” e a associou o autor à produção dos dossiês dos Aloprados e de Furnas.
Ribeiro Jr. afirmou que o livro é uma “cartilha sobre lavagem de dinheiro” e trabalhou na obra de 2000 até poucos dias antes da publicação. “Na época que comecei a apurar só se falava disso na imprensa”. O autor disse que seu interesse surgiu a partir das “lacunas que ficaram da história das privatizações” e que os documentos contidos na obra são todos “legais, obtidos na Justiça e no próprio Congresso Nacional.”
O autor trabalhou, como jornalista, na "Folha de S. Paulo", "O Globo", "Jornal do Brasil", "IstoÉ", "Estado de Minas", entre outros veículos. Ribeiro Jr. já foi acusado pela Polícia Federal de ter violado o sigilo fiscal de dirigentes tucanos e de familiares de Serra.
Postado por Oni Presente

domingo, 25 de dezembro de 2011

O perfeito imbecil politicamente incorreto | Carta Capital


O perfeito imbecil politicamente incorreto | Carta CapitalEm 1996, três jornalistas –entre eles o filho do Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, Álvaro –lançaram com estardalhaço o “Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano”. Com suas críticas às idéias de esquerda, o livro se tornaria uma espécie de bíblia do pensamento conservador no continente. Vivia-se o auge do deus mercado e a obra tinha como alvo o pensamento de esquerda, o protecionismo econômico e a crença no Estado como agente da justiça social. Quinze anos e duas crises econômicas mundiais depois, vemos quem de fato era o perfeito idiota.

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Mas, quem diria, apesar de derrotado pela história, o Manual continua sendo não só a única referência intelectual do conservadorismo latino-americano como gerou filhos. No Brasil, é aquele sujeito que se sente no direito de ir contra as idéias mais progressistas e civilizadas possíveis em nome de uma pretensa independência de opinião que, no fundo, disfarça sua real ideologia e as lacunas em sua formação. Como de fato a obra de Álvaro e companhia marcou época, até como homenagem vamos chamá-los de “perfeitos imbecis politicamente incorretos”. Eles se dividem em três grupos:

1. o “pensador” imbecil politicamente incorreto: ataca líderes LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Trânsgeneros) e defende homofóbicos sob o pretexto de salvaguardar a liberdade de expressão. Ataca a política de cotas baseado na idéia que propaga de que não existe racismo no Brasil. Além disso, ações afirmativas seriam “privilégios” que não condizem com uma sociedade em que há “oportunidades iguais para todos”. Defende as posições da Igreja Católica contra a legalização do aborto e ignora as denúncias de pedofilia entre o clero. Adora chamar socialistas de “anacrônicos” e os guerrilheiros que lutaram contra a ditadura de “terroristas”, mas apoia golpes de Estado “constitucionais”. Um torturado? “Apenas um idiota que se deixou apanhar.” Foge do debate de idéias como o diabo da cruz, optando por ridicularizar os adversários com apelidos tolos. Seu mote favorito é o combate à corrupção, mas os corruptos sempre estão do lado oposto ao seu. Prega o voto nulo para ocultar seu direitismo atávico. Em vez de se ocupar em escrever livros elogiando os próprios ídolos, prefere a fórmula dos guias que detonam os ídolos alheios –os de esquerda, claro. Sua principal característica é confundir inteligência com escrever e falar corretamente o português.

2. o comediante imbecil politicamente incorreto: sua visão de humor é a do bullying. Para ele não existe o humor físico de um Charles Chaplin ou Buster Keaton, ou o humor nonsense do Monty Python: o único humor possível é o que ri do próximo. Por “próximo”, leia-se pobres, negros, feios, gays, desdentados, gordos, deficientes mentais, tudo em nome da “liberdade de fazer rir.” Prega que não há limites para o humor, mas é uma falácia. O limite para este tipo de comediante é o bolso: só é admoestado pelos empregadores quando incomoda quem tem dinheiro e pode processá-los. Não é à toa que seus personagens sempre estão no ônibus ou no metrô, nunca num 4X4. Ri do office-boy e da doméstica, jamais do patrão. Iguala a classe política por baixo e não tem nenhum respeito pelas instituições: o Congresso? “Melhor seria atear fogo”. Diz-se defensor da democracia, mas adora repetir a “piada” de que sente saudades da ditadura. Sua principal característica é não ser engraçado.

3. o cidadão imbecil politicamente incorreto: não se sabe se é a causa ou o resultados dos dois anteriores, mas é, sem dúvida, o que dá mais tristeza entre os três. Sua visão de mundo pode ser resumida na frase “primeiro eu”. Não lhe importa a desigualdade social desde que ele esteja bem. O pobre para o cidadão imbecil é, antes de tudo, um incompetente. Portanto, que mal haveria em rir dele? Com a mulher e o negro é a mesma coisa: quem ganha menos é porque não fez por merecer. Gordos e feios, então, era melhor que nem existissem. Hahaha. Considera normal contar piadas racistas, principalmente diante de “amigos” negros, e fazer gozação com os subordinados, porque, afinal, é tudo brincadeira. É radicalmente contra o bolsa-família porque estimula uma “preguiça” que, segundo ele, todo pobre (sobretudo se for nordestino) possui correndo em seu sangue. Também é contrário a qualquer tipo de ação afirmativa: se a pessoa não conseguiu chegar lá, problema dela, não é ele que tem de “pagar o prejuízo”. Sua principal característica é não possuir ideias além das que propagam os “pensadores” e os comediantes imbecis politicamente incorretos.

domingo, 20 de novembro de 2011

Caso Lupi: a outra versão da história


Miguel do Rosário, do blog Cafezinho, reproduziu texto da esposa do ministro Carlos Lupi, que começou a circular de maneira viral - quinta-feira (17) na rede.

O Portal Vermelho reproduz abaixo a íntegra do texto de Angela Lupi:

Você tem direito de ter a sua verdade. Para isso você precisa conhecer todas as versões de uma história para escolher a sua. A deles é fácil, é só continuar lendo a Veja, O Globo, assistindo ao Jornal Nacional. A nossa vai precisar circular por essa nova e democrática ferramenta que é a internet.
Meu nome é Angela, sou esposa do Ministro do Trabalho e Emprego Carlos Lupi. Sou jornalista e especialista em políticas públicas. Somos casados há 30 anos, temos 3 filhos e um neto. Resolvi voltar ao texto depois de tantos anos porque a causa é justa e o motivo é nobre. Mostrar a milhares, dezenas ou a uma pessoa que seja como se monta um escândalo no Brasil.
Vamos aos fatos: No dia 3 de novembro a revista Veja envia a assessoria de imprensa do Ministério do Trabalho algumas perguntas genéricas sobre convênio, ONGS, repasses etc. Guarda essa informação.
Na administração pública existe uma coisa chamada pendência administrativa. O que é isso? São processos que se avolumam em mesas a espera de soluções que dependem de documentos, de comprovações de despesas, prestação de contas etc. Todo órgão público, seja na esfera municipal, estadual ou federal, tem dezenas ou centenas desses.
Como é montado o circo? A revista pega duas pendências administrativas dessas, junta com as respostas da assessoria de imprensa do ministério dando a impressão de que são muito democráticos e que ouviram a outra parte, o que não é verdade, e paralelamente a isso pegam o depoimento de alguém que não tem nome ou sobrenome, mas diz que pagou propina a alguém da assessoria do ministro.
No dia seguinte toda a mídia nacional espalha e repercute a matéria em todos os noticiários, revistas e jornais. Nada fica provado. O acusador não tem que provar que pagou, mas você tem que provar que não recebeu. Curioso isso, não? O próprio texto da matéria isentava Lupi de qualquer responsabilidade. Ele sequer é citado pelo acusador. Mas a gente não lê os textos, só os títulos e a interpretação, que vêm do estereótipo “político é tudo safado mesmo”.
Dizem que quando as coisas estão ruins podem piorar. E é verdade. Na terça-feira Lupi se reúne na sede do PDT, seu partido político em Brasília para uma coletiva com a imprensa. E é literalmente metralhado não por perguntas, o que seria natural, mas por acusações. Nossa imprensa julga, condena e manda para o pelotão de fuzilamento.
E aí entra em cena a mais imprevisível das criaturas: o ser humano. Enquanto alguns acuados recuam, paralisam, Lupi faz parte de uma minoria que contra ataca. Explode, desafia. É indelicado com a Presidenta e com a população em geral. E solta a frase bomba, manchete do dia seguinte: “Só saio a bala”. O que as pessoas interpretaram como apego ao cargo era a defesa do seu nome. Era um recado com endereço certo e cujos destinatários voltaram com força total.
Era a declaração de uma guerra que ainda não deixou mortos, mas já contabiliza muitos feridos. Em casa, passado o momento de tensão, Lupi percebe o erro, os exageros e na quinta-feira na Comissão de Justiça do Congresso Nacional presta todos os esclarecimentos, apresenta os documentos que provam que o Ministério do Trabalho já havia tomado providências em relação às ONGs que estavam sendo denunciadas e aproveita a oportunidade para admitir que passou do tom e pede desculpas públicas a Presidenta e a população em geral.
A essa altura, a acusação de corrupto já não tinha mais sustentação. Era preciso montar outro escândalo e aí entra a gravação de uma resposta e uma fotografia. A resposta é aquela que é repetida em todos os telejornais. Onde o Lupi diz “não tenho nenhum tipo de relacionamento com o Sr Adair. Fui apresentado a ele em alguns eventos públicos. Nunca andei em aeronave do Sr Adair”.
Pegam a frase e juntam a ela uma foto do Lupi descendo de uma aeronave com o seu Adair por perto. Pronto. Um novo escândalo está montado. Lupi agora não é mais corrupto, é mentiroso.
Em algum momento, em algum desses telejornais você ouviu a pergunta que foi feita ao Lupi e que originou aquela resposta? Com certeza não. Se alguém pergunta se você conhece o Seu José, porteiro do seu prédio? Você provavelmente responde: claro, conheço. Agora, se alguém pergunta: que tipo de relacionamento você tem com o Seu José? O que você responde? Nenhum, simplesmente conheço de vista.
Foi essa a pergunta que não é mostrada: que tipo de relacionamento o Sr tem com o Sr Adair? Uma pergunta bem capciosa. Enquanto isso, o próprio Sr Adair garante que a aeronave não era dele, que ele não pagou pela aeronave e que ele simplesmente indicou.
Quando comecei na profissão como estagiária na Tribuna da Imprensa, ouvi de um chefe de reportagem uma frase que nunca esqueci: “Enquanto você não ouvir todos os envolvidos e tiver todas as versões do fato, a matéria não sai. O leitor tem o direito de ler todas as versões de uma história e escolher a dele. Imprensa não julga, informa. Quem julga é o leitor”.
Quero deixar claro que isso não é um discurso para colocar o Lupi como vítima. O Lupi não é vítima de nada. É um adulto plenamente consciente do seu papel nessa história. Ele sabe que é simplesmente o alvo menor que precisa ser abatido para que seja atingido um alvo maior. É briga de cachorro grande.
Tentaram atingir o seu nome como corrupto, mas não conseguiram. Agora é mentiroso, mas também não estão conseguindo, e tenho até medo de imaginar o que vem na sequência.

Para terminar queria deixar alguns recados:

Para os amigos que nos acompanham ou simplesmente conhecidos que observam de longe a maneira como vivemos e educamos os nossos filhos eu queria dizer que podem continuar nos procurando para prestar solidariedade e que serão bem recebidos. Aos que preferem esperar a poeira baixar ou não tocar no assunto, também agradeço. E não fiquem constrangidos se em algum momento acompanhando o noticiário tenham duvidado do Lupi. A coisa é tão bem montada que até a gente começa a duvidar de nós mesmos. Quem passou por tortura psicológica sabe o que é isso. É preciso ser muito forte e coerente com as suas convicções para continuar nessa luta.
Para os companheiros de partido, Senadores, Deputados, Vereadores, lideranças, militantes que nos últimos 30 anos testemunharam o trabalho incansável de um “maluco” que viajava o Brasil inteiro em fins de semana e feriados, filiando gente nova, fazendo reuniões intermináveis, celebrando e cumprindo acordos, respeitado até pelos adversários como um homem de palavra, que manteve o PDT vivo e dentro do cenário nacional como um dos mais importantes partidos políticos da atualidade. Eu peço só uma coisa: justiça.
Aos colegas jornalistas que estão fazendo o seu trabalho, aos que estão aborrecidos com esse cara que parece arrogante e fica desafiando todo mundo, aos que só seguem orientação da editoria sem questionamento, aos que observam e questionam, não importa. A todos vocês eu queria deixar um pensamento: reflexão. Qual é o nosso papel na sociedade?
E a você Lupi, companheiro de uma vida, quero te dizer, como representante desse pequeno nucleozinho que é a nossa família, que nós estamos cansados, indignados e tristes, mas unidos como sempre estivemos. Pode continuar lutando enquanto precisar, não para manter cargo, pois isso é pequeno, mas para manter limpo o seu nome construído em 30 anos de vida pública.
E quando estiver muito cansado dessa guerra vai repousar no seu refúgio que não é uma mansão em Angra dos Reis, nem uma fazenda em Goiás, sequer uma casa em Búzios, e sim um pequeno sítio em Magé. Que corrupto é esse? Que País é esse?