Transbordamento das marginais espalharam o caos no trânsito da cidade
Às 3h14, toda a cidade foi posta em estado de atenção pelo CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências). Os rios Pinheiros e Tietê transbordaram, pontos das Marginais foram tomados pelas águas e vias adjacentes tiveram trânsito pesado. Por volta das 9 horas, o congestionamento em toda a cidade chegou a passar de 120 quilômetros, índice considerado alto pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Os pontos de alagamento, de acordo com a CET, chegaram a 105.
Serra: nada
Apesar de toda esta situação caótica, até as 15h30 desta terça-feira (8), quando esta matéria foi publicada, o sistema de busca de notícias Google News não havia localizado nenhuma notícia com algum pronunciamento do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), sobre as enchentes no Estado. O portal do governo paulista na internet ( www.sp.gov.br ) também não abordava o assunto.
Já o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), voltou a culpar a natureza pelas enchentes que provocaram caos e morte na capital paulista. “A chuva foi muito intensa, um volume muito grande de água”, afirmou, durante entrevista coletiva a jornalistas.
Kassab evitou falar sobre os problemas que causaram o transbordamento do rio Tietê, que paralisou a marginal nesta manhã. “A secretaria está avaliando como fazer para termos o escoamento mais rápido da água porque a cabeceira foi a área mais atingida”, afirmou, e aproveitou o momento para dizer que a enchente mostra um ponto positivo dos investimentos feitos pela prefeitura nesta área.
“Hoje, mesmo com este volume expressivo de água, o córrego Aricanduva e o Pirajussara suportaram bem essa intensidade, o que em anos anteriores não aconteceria. Isso mostra acerto da Prefeitura”, disse.
O prefeito, porém, parece ter se esquecido de que há uma semana, no dia 1º de dezembro, o Aricanduva não aguentou às chuvas e transbordou.
Na ocasião, a cidade chegou a ter 47 pontos de alagamentos, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE). Três pessoas morreram em um deslizamento de terra no Parque São Rafael, na zona leste. O temporal causou cinco deslizamentos e oito desabamentos de residência nas zonas leste, oeste e sul da capital paulista. No Estado todo, a Defesa Civil contabilizou 15 mortes.
Kassab afirmou ainda que a secretária estadual de Saneamento e Energia, Dilma Pena, avalia a possibilidade de se instalar uma bomba a mais na Usina Elevatória de Traição para melhorar o escoamento da água.
Ele ressaltou que a cidade realiza “investimentos expressivos no combate às enchentes” e que o planejamento municipal está correto. ”A cidade tem mapeado áreas de risco, realizado ações imediatas e os resultados já aparecem”, afirmou.
Líder petista vê "gestão de improviso"
Os alagamentos que resultaram das fortes chuvas na capital paulista são fruto de "gestão de improviso" e "prioridade para propaganda", disse o líder do PT na Câmara dos Vereadores, João Antonio. Para ele, o governo do Estado também tem responsabilidade no problema na Marginal Tietê por conta das obras viárias que, ao mesmo tempo em que devem melhorar o trânsito na região, diminuem a vazão do rio ao lado.
Esta é uma gestão que vai levando conforme a realidade se impõe. São dez dias disso e vamos fortalecer nossa campanha de denúncia desses problemas", afirmou o petista ao UOL Notícias. "Toda chuva é culpa da natureza para o prefeito. Mas é fácil culpar a natureza e ao mesmo tempo não investir em obras estratégicas. É isso que acontece quando você gasta cinco vezes mais com publicidade do que com gerenciamento de áreas de risco."
O líder do PT também atribuiu os alagamentos em São Paulo - que por volta das 13h passavam de 70 pontos em toda a cidade - às obras de ampliação das vias da Marginal Tietê, que acabou alagada.
"Foi uma obra mal planejada do governo do Estado desde a gestão Mario Covas. A gestão José Serra vem para comprovar: é o terceiro alagamento da Marginal depois da conclusão da obra. São gastos de R$ 3,5 bilhões de reais e nenhum resultado positivo. Estão impermeabilizando o solo ainda mais com essa nova obra, na contramão de tudo que estão fazendo no mundo", criticou.
João Antonio afirmou que os alagamentos desta terça-feira "são muito mais espalhados e graves" do que os existentes durante a gestão de Marta Suplicy e que Kassab, ao contrário da petista, deixou de dar autonomia às subprefeituras para cuidar de áreas de risco.
"No último ano da nossa gestão as subprefeituras tinham R$ 100 milhões para gastar. Hoje elas têm R$ 20 milhões, a Prefeitura resolveu centralizar tudo. Esse modelo não serve para lidar com problemas como chuva", afirmou.