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terça-feira, 3 de novembro de 2009
Decorridos quarenta anos, deixamos para trás o período do medo e do terror.
Se estivesse vivo, o líder comunista Carlos Marighella completaria 90 anos no dia 5 de dezembro. Morto durante o regime militar, a história encarrega-se, aos poucos, de desmistificar a imagem daquele que já foi considerado o "inimigo público número 1".
Se estivesse vivo, o líder comunista Carlos Marighella completaria 90 anos no dia 5 de dezembro. Morto durante o regime militar, a história encarrega-se, aos poucos, de desmistificar a imagem daquele que já foi considerado o "inimigo público número 1". Por Vinícius Pinheiro
Fotos: Acervo Iconografia, Arquivo Nacional e Arquivos do Estado de São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco.
4 de novembro de 1969, passava um pouco das oito da noite:
Por Vinícius Pinheiro
Marighela, dentro de um fusca (à direita) tinha um encontro marcado com freis dominicanos à altura do número 806 da Alameda Casa Branca. Mas o delegado Fleury o esperava lá. Foi morto com quatro tiros.
Marighela figurava nos cartazes dos oito terroristas mais procurados, sob o título de “assassinos”.
Quatro de novembro de 1969, São Paulo. Em uma operação que envolveu um total de 29 homens, a equipe do DOPS chefiada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury mataria Carlos Marighella, o líder comunista mais procurado do Brasil, em uma emboscada na Alameda Casa Branca. As ordens eram claras: Marighella não deveria ser preso. Na disputa pelo mérito de ter eliminado o fundador e comandante da Ação Libertadora Nacional (ALN), uma investigadora foi morta e um delegado foi ferido.
Se estivesse vivo, Carlos Marighella completaria 90 anos no dia 5 de dezembro. Desde a volta do exílio em Cuba, em 1979, Clara Charf, viúva do líder comunista, empenha-se em resgatar a memória e desconstruir a imagem do "inimigo público número 1" criada em torno da figura de Marighella. "Ele acreditava que nada poderia ser transformado sem luta e é isso que estamos fazendo. Mesmo quem discordava dos métodos utilizados por ele reconhece a sua coerência e coragem durante toda a vida", diz.
Na opinião de Clara, a realidade atual poderia ser outra se Marighella não tivesse sido assassinado em 1969. "Ele utilizou todas as formas de luta de acordo com cada situação que enfrentou e nos dias de hoje não seria diferente." Durante os 58 anos de vida, passou por todas as experiências pelas quais um revolucionário poderia viver e, afirma, jamais cruzaria os braços.
Para o cientista político Alcindo Gonçalves, a opção da luta armada contra o regime militar seguida por Marighella e pelas dissidências do Partido Comunista não foi acertada. "Todas as experiências duraram pouco tempo e não tiveram apoio popular expressivo", disse. A ditadura começou a ceder, segundo ele, quando formou-se um amplo arco de forças políticas contra o sistema, o que revelou ser o melhor caminho. "Apesar disso, a importância dele no processo de defesa das causas populares é única, não apenas durante a ditadura como em toda a vida, e sua imagem precisa ser lembrada por isso."